sexta-feira, 27 de abril de 2012

Mulher, ninguém te condenou? Tão pouco eu te condeno.




Venho observando todo esse movimento em torno das mulheres em papeis de destaque na sociedade. Ao mesmo tempo em que me alegro em ver algumas mulheres competentes em posição ideal de exercer suas competências, os exageros causam-me estranheza e certa apreensão, até. Jantei com o casal Suzana e Daniel Fresnot, há pouco tempo. Eles são líderes do belo trabalho das Casas Taiguara, destinadas às crianças moradoras de rua na cidade de São Paulo. O casal é de origem judaica, muito dedicados à leitura e o Daniel é um estudante profícuo da Bíblia. A brincadeira mais recente dele é traduzir o Pentateuco de uma versão dos rabinos franceses para português. Durante o jantar, a Suzana afirmou que Jesus era um tanto machista. Pensei em argumentar em oposição, mas hesitei com medo de ser deselegante. Entretanto o Daniel tomou a palavra e fez uma das mais brilhantes apologias ao respeito e sensibilidade de Jesus em relação à mulher que eu já ouvira. Para tanto, ele usou a história da mulher adultera e sinto não ter gravado aquele momento. Não tentarei reproduzir o que ele disse para não incorrer no erro de ser impreciso e comprometer algo tão belo e verdadeiro. Tampouco condeno a Suzana que tão somente citou um dos mitos que pouco a pouco se alastram nas ondas feministas que andam assolando a humanidade.

Com a mais absoluta certeza não tenho nenhuma objeção à mulher desempenhando papeis tradicionalmente ocupados por homens. Não penso que o gênero deva definir a escolha. Infelizmente vi uma mulher alçada à presidência de nosso país, não por sua competência, mas por imposição de um político truncho, que resolveu fazer mais uma inscrição na calçada da fama, como o cara que alçou a primeira presidente mulher do Brasil. Dizem que o Lula quase teve um enfarto quando alguém lembrou-lhe que a Dilma não era a primeira presidente brasileira mulher de fato. Antes dela, a princesa Isabel exercera a função, inclusive, tendo entrado para a história por ter assinado a infame Lei Aurea. Infame porque, para mim, a liberdade de qualquer ser humano deveria ser inata e não dar-se por decreto de quem quer que seja, sobretudo pela pena de uma princesa qualquer, obrigada a fazê-lo porque seu pai não foi homem suficiente para fazê-lo e largou a bomba na mão dela. Claro que logo o cordão dos bajuladores veio com argumentos insólitos menosprezando a Princesa Isabel na condição de primeira mandatária do País. Uma grande bobagem, diga-se de passagem, pois ela não só ocupou e exerceu o cargo político mais importante da nação, como ainda carregava consigo certo “plus” que a tornava ainda mais importante, ou seja, o pedigree de ser filha legitima do imperador e, portanto, princesa consorte, e bota sorte nisso.

Concordo com o Daniel e muito mais ainda com Jesus. Pouquíssimas vezes, se não a única, a mulher foi tão dignificada e bem defendida quanto aquela senhora que Jesus da Galileia livrou das pedras e da morte. Para cristãos e judeus mais ortodoxos ela não merecia nem um olhar do Mestre, quanto mais sua intervenção salvadora. Afinal ela traíra seu marido, através do adultério. Para aquela assembleia, mulheres adúlteras não mereciam nenhum respeito. Mas Jesus foi direto na jugular da homorada presente com aquela celebre colocação interrogativa: Quem não tem pecado que atire a primeira pedra. Não pense você que ele se referia a pecados veniais, como espiar a empregada tomando banho pelo buraco da fechadura da porta do banheiro, passar o dedo na cobertura do bolo ou não fazer a lição de casa. Jesus estava afirmando que quem nunca houvesse adulterado atirasse a primeira pedra. Surpresa! Todos, e não eram poucos, os senhores presentes eram réus culpados desse horroroso pecado mortal.

Para mim, todos os homens e mulheres que forem vitimas de cônjuges adúlteros estarão entre os mais miseráveis sofredores da raça humana. Nunca passei por isso, mas só de imaginar a cabeça com cornos enormes para o delírio de toda a vizinhança, me dá arrepios indescritíveis, fora o desgaste psicológico da vitima. Naquele caso, ali estava uma mulher quase indesculpável. Digo quase porque imagino que nenhum de nós a teria absolvido. Juízes e leis humanas nunca absolvem pecadores. Mas entendo que Jesus fez daquele acontecimento algo emblemático na questão da mulher e das liberdades femininas. Para mim, ele disse com aquela defesa maravilhosa, que todas as mulheres são tão dignas quanto qualquer homem diante de Deus, até a mais vil pecadora dentre elas. Parece que nosso senhor tinha certa propensão a considerar os últimos como os primeiros.

Concluindo, lembro-me da vez em que usei essa passagem bíblica em minha predica no culto semanal na Escola Superior de Teologia Evangélica. Claro que procurei usar essa entonação toda perdoadora e dignificadora do ser humano mulher, a exemplo do Senhor. Um pastor presente, que era aluno da escola, não suportou o que para ele seria um grande horror, e entregou-se me confrontando. Para ele, a mulher adultera nunca deveria ter sido perdoada. Louvo a sinceridade do babaca, e me curvo ao fato de que todos nós seriamos qualificados para fazer parte como figurantes naquele grupo de apedrejadores e nunca para o papel que Cristo desempenhou ali.

Lula nunca entendeu e nunca entenderá o jeito de Jesus engrandecer a mulher. O Senhor salvou uma mulher que deveria ter morte certa segundo a lei dos homens, para engrandece-la, enquanto Lula elevou uma mulher à presidência de uma grande nação para elevar a si próprio. A Dilma que se vire agora para não decepcionar o resto das mulheres e até alguns homens, entre os quais me incluo. Seria péssimo para a raça humana se ela nos desapontasse. Ainda vivemos em tempos que homens podem meter os pés pelas mãos, a torto e direito, enquanto isso ainda não é permitido às mulheres. Mais um ponto para o Galileu.

Por Lou Mello


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